BICICLEATA NA USP

RELATO DA MANIFESTAÇÃO

 

Por André Pasqualini
www.ciclobr.com.br
andre@ciclobr.com.br

 

Bem pessoal, desculpe a demora, mas eu gostaria de ter tudo de mais concreto possível antes de mandar a mensagem. Desculpa se eu esquecer ou trocar os nomes da galera, realmente tenho essa dificuldade, mas me corrijam se for o caso, pois daí eu gravo de vez.

Vou começar contando como foi a manifestação de ontem. Eu cheguei no Ibirapuera por volta das 18:00. Comecei então a passar por todos os ciclistas que encontrava e passava o abaixo assinado.

Comecei a ficar preocupado, pois muita gente da imprensa estava me ligando, o tempo estava ruim, e imaginei que haveria mais imprensa que ciclistas. Quando deu 19:00, encostou uma moto com o pessoal da Globo. Mais um tempo e chegou o Silvio. Comecei a ficar desesperado, passavam alguns ciclistas, eu pedia para assinarem a lista e os convidava para a manifestação.

Todos pegavam a lista, assinavam, metiam o pau na USP, mas na hora de pedalar, um tinha médico, outro estava com dor de barriga, outro não sei o que...

Ficava pensando, como sou trouxa, ficar aqui dando a cara a tapa, pra uma galera que não dá a mínima. Só sabem reclamar, mas mexer a bunda que é bom... Alias, essa manifestação não era apenas para a galera que usa a USP, mas para todos os ciclistas da cidade, pois eles estavam perdendo muito mais do que mais um espaço para pedalar.

Quando foi 19:30 haviam eu e mais dois ciclistas. Nessa hora chegou a funcionária da Secretaria do Verde e Meio Ambiente para entregar a Carta do Secretario Eduardo Jorge. Fiquei feliz, pois na carta, além de solidarizar com a manifestação, havia um convite para fazermos parte de um grupo de trabalho que vai planejar a implantação de bicicletários, ciclovias e ciclofaixas na cidade de São Paulo.

Mas minha alegria não durou muito, pois logo depois que me entregaram a carta, começou a chover. E chover forte. Toda hora tocava meu telefone, uma hora era o Estadão, outra a Folha, todos querendo saber se haveria a manifestação. Falei que iria esperar até as 20:00 e na hora iria decidir se iria rolar ou não. A Renata Falzoni me ligou falando que não viria, pois a chuva ia foder o equipamento dela. Achei até melhor, pois se ela aparecesse eu é que ficaria com a cara no chão, pois ela duvidou que a galera compareceria para valer... Acho que eu fui o único que acreditou nessa possibilidade. Quinze minutos a chuva dá um tempo e aparece uma Japinha speedeira.

Começaram a aparecer mais ciclistas, um cara do Sampa Biker, outro da Bicicletada. Logo depois apareceram uns 10 speedeiros. Chegaram duas garotas que haviam me ligado anteriormente, desculpe, mas esqueci o nome de vocês. Logo depois chegou o Ardilhes, o cara. Vocês não imaginam o quanto fiquei feliz por vê-lo. O pior é que eu não o reconheci, mesmo trocando email direto, falando pelo telefone quase que todos os dias. O problema que eu o havia visto apenas uma vez, no ano passado. Mas agora nunca mais esqueço a cara dele.

Continuando, logo depois apareceram uns 3 senhores, que provavelmente tinham mais de 50 anos. Quando contei haviam 40 ciclistas lá na concentração. A imprensa também chegou. Lá estavam a Globo, a Record, Diário do Comércio, o pessoal da TV USP, da USP Online.

A mulher da folha me ligava toda hora e o repórter do Estadão estava nos esperando na porta da USP. Como que eu gostaria que aqueles senhores emprestassem num pouco da disposição para aqueles que não tiveram coragem de ir. Só de imaginar que o Sampa Biker chega a reunir uns duzentos ciclistas para passear a noite.

Fiquei imaginando a repercussão que seria se conseguíssemos mesmo reunir uns 200 ciclistas. Imaginem a manchete, “Mais de duzentos ciclistas, enfrentam a chuva e o frio por uma São Paulo mais segura”. Teríamos saído até no Jornal Nacional. Mas isso é sonho, pois o que percebo dos ciclistas de Sampa, é que eles são experts em reclamação. Sabem reclamar como ninguém, mas que também tem um discurso na ponta da língua, pra justificar a falta de atitude. Quantas vezes nesses 12 anos, pus em cheque essa minha briga contra esse moinho de vento. Será que vale a pena continuar dando murro em ponta de faca?

Mas depois de ver aqueles senhores, sei que vale a pena. Eles sim merecem meu sacrifício com toda a certeza. Chega de divagar e vamos a manifestação. Saímos as 20:20 do Ibirapuera, uma correria de fotógrafos, cinegrafistas... Seguimos até a USP, a chuva nos acompanhou durante todo o trajeto e a cada parada no semáforo era uma festa para os fotógrafos e para a TV.

Chegando na USP, como estava atrás do pelotão, não percebi que a galera tentou entrar, como quem não quer nada. Eu gostaria de parar na portaria, mas acabou sendo legal eles serem barrados, para desmentir o que eles estavam dizendo para a imprensa, que apenas os Ciclistas-Atletas estavam proibidos. Ficou bem claro que todos estavam proibidos de pedalar na USP.

Então tentei entregar a carta a algum membro do conselho da USP, mas ninguém havia comparecido não o fiz. Embora eu houvera avisado-os por duas vezes da manifestação. Então começamos a conversar com o segurança mesmo, e a imprensa começou fazer o maior auê, questionando o segurança botando pilha, foi muito legal, ficou bem claro a tendência de todos que lá estavam. Mas depois que os ânimos esfriaram, conversei com o segurança que ficou de marcar com o prefeito da USP, para que eu entregasse a carta no dia seguinte.

Logo depois comecei a dar entrevista ao pessoal, falei com a Jovem Pan, com o Estadão, ao pessoal da TV USP, da Record. Enquanto isso todo mundo que estava no protesto também dava sua opinião a imprensa. Parece que todos os que comparecerem entenderam bem o espírito da manifestação, pois todos falavam a mesma língua.

Garanto que se todos aqueles que deram opiniões desencontradas nas listas tivessem comparecido, com certeza eu não seria obrigado a ler algumas bobagens que foram “cuspidas” nas listas. O Willian falou tudo, se você é a favor, compareça, se você é contra, também compareça e manifeste lá a sua opinião. Caso você não saiba o real motivo da manifestação, compareça da mesma maneira e tire lá as suas dúvidas. E se mesmo assim continuar contra, pegue sua bike e dê meia volta. Nesse caso fique a vontade para despejar seu ponto de vista, pois você o fará com bastante embasamento.

Pra fechar, vamos ao saldo de tudo isso. Hoje eu tive uma conversa com um membro do Conselho da USP, que irá me receber amanhã. Entregarei então as cartas, tanto a nossa, quanto a do secretário. Ele também já me adiantou quais serão os próximos passos. A USP irá formar um grupo de trabalho que será composto por ciclistas de todos as categorias. Como não temos uma organização, ou seja, não temos representatividade, não haverá como chamar ongs, essas coisas. Eu ficarei a disposição de fazer parte desse grupo de trabalho, representando os ciclistas que utilizam a bicicleta como lazer e meio de transporte.

Irei apresentar e defender a proposta de se construir ciclovias e ciclofaixas na USP. Não defenderei os pelotões, pois inclusive, no meu ponto de vista, a USP não é o local mais indicado para treinamento de alto nível. A sugestão que defenderei é que se abra o autódromo de Interlagos nos dias em que não há competições para eles treinarem. Pelo menos esse era o sentimento do pessoal que participou da manifestação.

Ficarei também a disposição para participar desse grupo de trabalho da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que planejará a implantação de ciclovias na cidade. Irei como um ciclista que usa sua bicicleta como meio de transporte, e não como alguém de alguma ong, grupo ou seja lá o que for. Já que não sou filiado a nenhuma ong para esse fim. Tentarei também por intermédio da Secretaria do Meio Ambiente, estudar uma maneira de levar a galera para treinar em Interlagos.

Tudo que a gente discutir eu me comprometo a informar o máximo de ciclistas que eu conseguir. Seja através das listas ou dos sites de ciclismo.

Finalizando, quero agradecer a todos os 40 guerreiros que compareceram na manifestação. Agradecer também a “meia dúzia” dos que saíram da lista. Uma pena, já que o Start da manifestação foi dado justamente aqui.

Quero também fazer um agradecimento especial ao Ardilhes, um dos principais responsáveis por toda essa repercussão. Se num futuro próximo, vocês tiverem ciclovias, bicicletários, atenção e respeito das autoridades, agradeçam a esse cara. Pois graças a eles conseguimos tanto destaque na mídia. Nunca uma manifestação de ciclistas em meus doze anos de pedal, chamou tanta a atenção da mídia e por um período tão longo. Tudo isso foi sobretudo, aos seus esforços.

É isso aí galera, não estou chateado com ninguém, apenas um pouco frustrado, mas garanto que qualquer um em meu lugar sentiria a mesma coisa. Agora é tocar a vida e ver o que acontece.